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sexta-feira, 16 maio 2025 13:00

Cabo Delgado: O duplo sofrimento das famílias que vivem em Mocímboa da Praia, uma região marcada por guerra e fome

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Em Mocímboa da Praia, as famílias enfrentam dias de profunda dor. Depois de mais de sete anos de guerra, agora é a fome que aperta. A seca devastou tudo. Os poucos que tentaram cultivar perderam as colheitas por causa do sol intenso e dos animais que invadem os campos.

A Zumbo FM Notícias ouviu famílias que lutam todos os dias para sobreviver. Mães e pais que dependem da terra, mas que hoje já não têm o que colher nem o que cozinhar.
Dona Teresa, mãe de cinco filhos, vive no bairro Milamba. Em voz baixa, conta que já não sabe o que dar aos filhos.

“Ontem só fiz chá de folhas. Hoje não sei o que vou dar. A machamba ficou seca, nada cresceu. Choveu pouco e o milho não nasceu. Estamos a sofrer.”

Senhor Mateus Machomba, camponês com mais de 20 anos de experiência, diz que nunca viu nada igual.
“Sempre plantei milho, feijão, arroz. Este ano nada prestou. Nem mandioca. O sol queimou tudo. Até os elefantes entraram e comeram as folhas. Estamos a passar muito mal.”

Além da fome, há também o medo. A insegurança continua a assombrar muitas famílias que regressaram às suas casas depois de anos a viver como deslocadas.

“Voltámos com esperança de recomeçar, mas até agora nada mudou. A fome está pior. Os meninos choram com fome. Nós pedimos ajuda. Só Deus sabe”, desabafa senhor Joaquim Paulo, pai de sete filhos.

O administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, confirma a gravidade da situação. Em entrevista à Zumbo FM Notícias, revelou que o governo local tentou incentivar a produção agrícola, mas os obstáculos foram maiores do que o esperado.

“Quanto à segurança alimentar, enfrentámos muitas dificuldades. Mobilizámos a população para abrir áreas de cultivo e a resposta foi positiva. Mas, no momento da sementeira, já não havia sementes disponíveis. As poucas que foram lançadas à terra não germinaram. Depois de quase dois meses, enfrentámos uma estiagem severa: não choveu. O sol queimou tudo. Assim, as culturas secaram e não produziram.”

O administrador distrital acrescenta que algumas famílias conseguiram colher mandioca e, em menor escala, batata-doce, mas o pouco que conseguiram não será suficiente para sustentar por muito tempo.

“Depois de consumirem o pouco que colheram, vamos enfrentar uma situação real de fome.”

Outro fator agravante é o conflito com a fauna bravia.

“Os poucos campos que ainda tinham alguma produção estão a ser invadidos por elefantes, hipopótamos e outros animais, que destroem tudo. Já informámos as autoridades superiores para tentar travar esta situação.”

Algumas famílias tentaram plantar arroz, mas em pequenas quantidades. As chuvas já pararam, e muitas comunidades vivem no limite.
“Todos os dias recebo idosos a pedir ajuda. Mães com filhos às costas, todos à procura de alguma coisa. As poucas lojas que tínhamos estão esgotadas. Precisamos de sementes, de tratores, de apoio para podermos voltar a produzir. As famílias não têm rendimentos.”

Em Mocímboa da Praia, a guerra destruiu o que era físico. Agora, a fome ameaça destruir o que ainda resta, a esperança de um povo que resiste, mesmo sem saber o que vai comer no dia seguinte. (x)

Por: Bonifácio Chumuni

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