Empreiteiros da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, queixam-se das agências das Nações Unidas, acusando-as de promoverem uma política sistemática de exclusão das empresas locais no processo de reconstrução da região.
Trata-se de uma denúncia contra o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) a primeira com maior peso no envolvimento do processo, entre outras entidades responsáveis pela execução de obras públicas desde o lançamento do Plano de Reconstrução, em outubro de 2021.
As queixas foram tornadas públicas esta terça-feira (11.06.2025), em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, pelo presidente da Associação dos Empreiteiros de Cabo Delgado, Murchid Abdul Razak, que falou em “exclusão inteligente” e criticou a falta de transparência no processo de adjudicação de obras.
“Na verdade, neste processo de reconstrução, não é apenas o Governo que é protagonista. Posso até dizer que o Governo tem pouca influência direta. Quem está à frente do processo são as organizações não-governamentais, e em grande número. Temos o PNUD, UNOPS, UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a População, Fundo das Nações Unidas para a Habitação... São muitas organizações a operar em Cabo Delgado.”
Segundo Razak, entre 80% e 90% das empreitadas em curso são entregues a empresas de fora da província, muitas das quais estrangeiras, que se estabelecem temporariamente na região para executar os projectos e partem sem deixar qualquer rastro de envolvimento local.
“Temos sérios problemas com essas organizações, enquanto empreiteiros locais. O que se assiste neste momento é que os empreiteiros locais estão apenas a assistir, e não a participar. Estimamos que 80% a 90% das empresas que executam obras em Cabo Delgado são de fora da província. Vêm, instalam-se e realizam os projetos. Muitas vezes, vemos apenas as placas das obras, sem saber como foi feito o processo. Nos distritos, deparamo-nos com obras em curso.”
A situação, segundo os empreiteiros, é agravada pela alegada falta de vontade institucional para corrigir o desequilíbrio. Reuniões formais foram realizadas com as agências denunciadas, mas, até ao momento, sem resultados concretos.
“Os empreiteiros reclamam dessa exclusão. Já tivemos várias reuniões com o UNOPS, PNUD e OIM, mas não estamos a ver melhorias concretas. É precisamente agora que o Governo deveria intervir. Se não está a financiar diretamente essas obras, então deveria supervisionar essas organizações e defender os empreiteiros locais. O Governo deve mostrar que está contra o que essas agências das Nações Unidas estão a fazer.”
A denúncia ganha força num contexto em que se esperava que a reconstrução de Cabo Delgado servisse, além da recuperação física das infraestruturas, como um motor de desenvolvimento econômico para os empresários locais muitos dos quais também afetados pela guerra e deslocações forçadas.
Razak finaliza com um desabafo que expõe o sentimento de abandono vivido pela classe:
“Na verdade, estamos a lutar sozinhos.”
A Zumbo FM Notícias tentou, até ao fecho desta edição, obter uma reação oficial por parte das agências citadas, bem como das autoridades governamentais provinciais, mas não obteve resposta.(X)
Por: Bonifácio Chumuni
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